sexta-feira, 24 de maio de 2013

Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto eu tentei. Eu conto:
Madrugada, a minha aldeia estava morta. Não se via ou ouvia um
barulho, ninguém passava entre as casas. Eu estava saindo de uma festa.
Eram quase quatro da manhã. ia o silêncio pela rua carregando um bêbado. preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visês naquela madrugada. Preparei minha máquina de
novo. Tinha um perfume de jasmim no beiral do sobrado. Fotografei
o perfume. Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo. Fotografei o
perdão. Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa.
Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre. Por fim eu enxerguei a nuvem de calça.
representou para mim que ela andava na aldeia de braços com
maiakosviski - seu criador. Fotografei a nuvem de calça e o poeta.
Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa
mais justa para cobrir sua noiva.
A foto saiu legal.

Manoel de Barros
De 21 de maio a 23 de junho o Centro Cultural Caixa Cultural - RJ recebe a 56ª Edição do World Press Photo, um dos prêmios de maior referência em Fotojornalismo.


Para maiores informações sobre o prêmio: http://www.worldpressphoto.org/

Para maiores informações sobre a expo: http://www.caixacultural.com.br/html/main.html

foto: WorldPressPhoto Gallery